quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Castelo de Ogiêr: a história do sonho de um homem e seu castelo




Seu Ogiêr: uma vida de dedicação a um sonho

Se o castelo do deputado Edmar Moreira, em Minas gerais, surpreende pela magnífica e esnobe construção atípica para o Brasil, agora imagine um castelo aqui, no interior do Piauí, construído por um homem de origem simples simples que não desiste do seu sonho.Pode parecer surreal, mas o Castelo de Ogiêr, o único do Piauí, está localizado no município de Altos, a menos de 40 kmdos nossos olhos teresinenses.

A trilha que leva ao Castelo é sinalizada por placas do SEBRAE/Circuito dos mistérios Piauienses. Em alguns trechos da estrada de chão que cabe apenas um carro, o percurso se torna complicado, com muitas subidas e descidas, e cada vez mais distante e isolado. A viagem, portanto, se torna um pouco mais demorada e -digamos- aventureira.



As placas estão com a grafia errada: se escreve Castelo de Ogiêr

O caminho para o castelo é bem simples de ser encontrado: seguindo a BR 343, no sentido Teresina Altos, ao chegar à primeira linha férrea que cruza a estrada é só seguir o caminho á esquerda, sem pavimentação. A partir daí, o cenário se transforma numa paisagem bucólica do interior, com pouquíssimas casas de gente muito simples, que vive tão perto mas ,mesmo assim, tão isolada de tudo.




Portal de entrada do castelo
Seu Francisco Ogiêr dos Santos, cearense de 65 anos, decidiu que teria uma castelo a partir dos 15 , após ver muitos filmes e histórias de princesas e castelos medievais. Natural do Ceará, desde muito cedo morou no Piauí, onde cursou até a terceira série do primário. Aos 18 anos, De Teresina foi para o Rio de Janeiro e São Paulo em busca de emprego, novas oportunidades e capital para a construção do seu já sonhado castelo. Por lá, depois de trabalhar como servente e faxineiro , descobriu os negócios de venda e reforma de baralho e montou uma firma com 12 funcionários, que lhe rendeu 700 mil reais de economia ao longo de 25 anos.
A escada de 64 degraus que leva ao alto do castelo

Em 1989, tomou a decisão que iria mudar o resto dos seus dias: largou a mulher e a firma em São Paulo e, aos 44 anos, sem filhos, retornou ao Piauí para finalmente iniciar a construção de seu incansável sonho de quase 30 anos.

No município de Altos encontrou um terreno acidentado, ideal para a construção de seu castelo numa parte mais alta. Comprou o terreno de 280 hectares no valor de 280 mil reais e, durante 2 anos ininterruptos, investiu maciçamente nas obras do castelo: não economizou no material de construção, comprou e ergueu estátuas enormes com guindastes, Para abrir a estrada de quase 1 km do portal de entrada ao castelo, gastou mais de 500 horas de trator, contratou pedreiros e , ao final, havia investido as economias de uma vida inteira.

A casa que Seu Ogiêr divide com a irmã, o marido e 5 sobrinhos

Logo na entrada do castelo, encontramos seu Ogiêr arrancando tocos da entrada do portal. Ele conta que todos os dias acorda às 6 da manhã para cuidar da manutenção do castelo junto com sua fiel escudeira, a cadela Lamparina. Ao anoitecer, depois de muito trabalho, Seu Ogier retorna à humilde casa da irmã, onde mora com ela, o marido e os 4 sobrinhos.



Seu Ogiêr se mostra bem receptivo e bem à vontade com as visitas ao castelo. Ele se revela um verdadeiro apaixonado por temas da Babilônia, Grécia, Itália e Egito, mais precisamente toda a História Antiga da Europa. No portal de entrada do Castelo estão erguidas duas grandes estátuas de leões alados, o símbolo da Babilônia nos tempos de apogeu de sua glória. Depois de percorrer o caminho de 900 metros que leva do portal ao castelo de fato, finalmente estamos diante da razão de viver de Seu Ogier.

“ Se eu inaugurasse esse castelo hoje, no outro dia Deus podia me levar. O meu prazer é fazer e contemplar aquilo que eu construí...um homem como eu, de família paupérrima...”

O Mplifer de Seu Ogiêr: o carro está parado por falta de manutenção

O castelo foi todo construído com pedras coletadas a região. Logo na entrada, duas esfinges egípcias abrem caminho para um dragão inglês que ladeia a escada de 64 degraus, em formato de rabo de pavão, que conduz ao alto do castelo.

Depois de 20 anos, o castelo já se encontra bastante deteriorado. Seu Ogiêr enumera todas partes do castelo que já se foram: um dos dragões inglese da escada; a grande estátua de Diana, a deusa romana erguida no meio do portal de entrada; e os 3 arcos de 16 metros que ostentavam uma enorme águia de 3 metros.

O projeto idealizado por seu Ogiêr apresenta 6 torres -sendo no 3° e último andar da torre mãe de 40 metros a suíte presidencial - uma capela, uma praça, muralhas de 7 metros, salão nobre, salão de inverno, adega, salão de jogos e uma decoração ao estilo francês de Luis XIV, o rei –sol-. Além disso, Seu ogier nos revela o desejo especial por uma enorme estátua de 6 metros que represente o Colosso de Rodes, uma das 7 maravilhas do mundo, para que todos, ao entrar no castelo, passassem obrigatoriamente entre as pernas da estátua, reproduzindo o ritual de proteção da cidade de Rodes, na Antiguidade

“Eu sou um homem que gosta da arte, da beleza e elegância. Se pudesse, eu seria engenheiro ou arquiteto. Eu sou meio exótico, eu não quero um palácio, quero um castelo medieval.”

Vários políticos já visitaram o castelo prometendo ajudas e investimentos, mas nada aconteceu. A obra está parada há 17 anos. Seu Ogiêr conta apenas com a aposentadoria de um salário mínimo e com o ingresso de 2 reais que cobra dos vistantes para concluir seu sonho. O faturamento, segundo ele, não chega a 300 reais por mês.

Dragão inglês

“Enquanto eu viver, se Deus me der mais 20 ou 30 anos, todo o meu trabalho e sacrifício é para o meu castelo. Tudo o que me sobrar, eu tiro o pouco da minha poupança para pôr aqui. E vou botando pedra sobre pedra.”